24.8.05

tens um belo corpo

Que sede é esta que me queima os olhos e me faz tremer
as mãos... Não, não digas. Não é verdade. Tédio. Só tédio.
Berros desamparados no fundo.
Os teus cabelos são loiros. Não, é o sol. É o tabuleiro
no chão e o fumo azul que corta os vidros da cama do Pedro.

Cala-te, não suporto essa voz que adivinho. Jornal dobrado.
Mais um dia, menos um dia. Limite viscoso no braço da cadeira
pendurada numa tecla do piano. Robots sensuais me afagam
os seios e guincham. Ouvi uma explosão, caixotes que
rebolavam pela escada. Eras tu, Pedro, de olhos vítreos
fixos no meu braço esquerdo. Onde a agulha se tinha enterrado.

Tens um belo corpo - fazes poemas. Não, não estou a chorar.
Mas tenho feridas nos ombros e os lábios inchados.
Tu não. Tu amas-me?